Empresa quer escanear a íris de toda a população mundial para coletar dados
A BayLDA, autoridade de proteção de dados da Baviera, na Alemanha, determinou nesta quinta-feira (19) a exclusão de dados da World, empresa que tem escaneado a íris de milhares de pessoas pelo mundo em troca de dinheiro.
A World foi criada pelo bilionário Sam Altman, cofundador da OpenAI, criadora do ChatGPT. O projeto, que também está coletando dados de milhares de brasileiros, diz que seu objetivo é diferenciar humanos de robôs no futuro, bem como autenticar o login de usuários em sites e aplicativos.
Em comunicado, a BayLDA determinou “a exclusão de determinados conjuntos de dados, até agora coletados sem base legal suficiente” e disse que a World é “obrigada a obter consentimento explícito para determinados passos de processamento no futuro”.
A autoridade afirmou que, apesar de melhorias feitas pela World, “ainda são necessárias adaptações para alinhar o processamento de dados da empresa com os regulamentos aplicáveis”. Entre outras coisas, o projeto deve “fornecer um procedimento de exclusão” um mês após a decisão final.
“Com a decisão, é concluído um processo de revisão iniciado em abril de 2023, cujos resultados devem ser seguidos pela empresa em seus processamentos de dados em toda a Europa”, afirmou a BayLDA.
A World, por sua vez, afirmou que a decisão alemã indica “a urgente necessidade de estabelecer uma definição precisa e consistente de anonimização na União Europeia, capaz de garantir a proteção de dados pessoais na era da inteligência artificial (IA)”.
O projeto alega que a lei de proteção de dados da União Europeia não oferece essa clareza e diz que é “essencial que essa questão seja abordada com rapidez para garantir que as leis e regulações protejam a privacidade dos cidadãos da UE, ao mesmo tempo em que viabilizam tecnologias, incluindo IA, treinadas com dados da UE para respeitar sua cultura e normas”.
A BayLDA é responsável por analisar o tratamento de dados da World na União Europeia porque o projeto tem sede na Alemanha.
Na ordem, o órgão alemão afirmou que a coleta de informações biométricas infringe a lei de proteção de dados da União Europeia.
Em março, a Agência Espanhola de Proteção de Dados da Espanha já havia determinado a interrupção da coleta no país. A autoridade repercutiu a decisão nesta quinta e disse que a decisão alemã ratifica a medida adotada anteriormente.
Na decisão de março, a agência espanhola afirmou que o empreendimento da World pode ser uma violação das regras de proteção de dados da União Europeia.
Em março, a agência já havia determinado a interrupção imediata do escaneamento e tratamento de dados pessoais que a empresa realizava na Espanha, segundo o El País. A decisão foi mantida pelo Tribunal Supremo da Espanha, rejeitando um recurso movido pelos proprietários da organização.
A World disse ao g1 em 11 de dezembro que a operação na Espanha “está atualmente em uma pausa temporária por iniciativa própria do projeto.”
A Espanha não é o primeiro país a ir nesta direção. Em novembro, a República Dominicana também suspendeu o escaneamento no país.
A decisão também segue uma preocupação global sobre privacidade dentro deste projeto criado por Sam Altman, CEO da OpenAI (empresa do ChatGPT).
Escaneamento no Brasil
No Brasil, a World está coletando dados em 20 pontos de São Paulo. Até o momento, a empresa afirma ter escaneado as íris de 189 mil pessoas no país, segundo dados desta quinta-feira (19) divulgados pela própria empresa.
Quem aceita oferecer seus dados ganha tokens da Worldcoin, moeda digital da empresa que pode ser convertida para o real.
O projeto levanta questionamentos sobre como vai tratar informações biométricas de milhões de pessoas e qual é a finalidade da coleta desses dados, que são considerados sensíveis pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
👁️ O que é o projeto
Segundo a organização, o escaneamento da íris tem como objetivo auxiliar na distinção entre humanos e robôs criados por inteligência artificial (IA). Entre os potenciais usos da inovação está a prevenção de perfis falsos em sites e redes sociais, por exemplo.
A ideia da World é que essa tecnologia ainda substitua o Captcha, uma ferramenta de segurança usada por vários sites para certificar que quem está acessando é um humano e não um robô (veja na imagem abaixo).
Teste do reCAPTCHA pode ser validado automaticamente em certas circunstâncias
Reprodução
A estrutura da World tem três frentes:
👁️ World ID, como é chamado o passaporte digital que transforma o registro da íris em uma sequência numérica;
🪙 Token Worldcoin (WLD), a criptomoeda que será distribuída como recompensa para todos os inscritos;
📱World App, o aplicativo que permite fazer transações com a criptomoeda.
A “foto” da irís da pessoa é tirada com a câmera Orb (veja na imagem abaixo) e é usada para criar um código numérico para identificar cada usuário e, de acordo com a World, é apagada logo em seguida.
Dispositivo usado para criar ‘passaporte digital’ da Worldcoin
Darlan Helder/g1
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