Pornografia deepfake se espalha por escolas da Coreia do Sul e vítimas são jovens estudantes

Escândalo envolve mais de 500 escolas e universidades — e muitas vítimas menores de idade. Telegram está sendo usado para espalhar pornografia gerada por meio de deepfakes
BBC
No último sábado (31/8), apareceu uma mensagem do Telegram no celular de Heejin, enviada por um remetente anônimo.
“Suas fotos e informações pessoais vazaram. Vamos conversar.”
Quando a estudante universitária, da Coreia do Sul, entrou no bate-papo para ler a mensagem, recebeu uma foto sua tirada alguns anos atrás, enquanto ainda estava na escola, seguida por uma segunda imagem, usando a mesma foto, só que sexualmente explícita — e falsa.
Apavorada, Heejin, que não é seu nome verdadeiro, não respondeu, mas as imagens continuaram chegando.
Em todas elas, seu rosto havia sido anexado a um corpo realizando um ato sexual, usando a sofisticada tecnologia de deepfake.
A pornografia deepfake — que combina, em sua maioria, o rosto de uma pessoa real com um corpo falso e sexualmente explícito — está sendo gerada cada vez mais por meio de ferramentas de inteligência artificial.
O que é deepfake e como ele é usado para distorcer realidade
O trauma devastador de quem teve imagem usada em ‘deepfakes’ pornôs
“Fiquei petrificada, me senti tão sozinha”, contou Heejin à BBC. Mas ela não estava sozinha.
Dois dias antes, a jornalista sul-coreana Ko Narin havia publicado o que se tornaria o maior furo de reportagem da sua carreira. Recentemente, tinha vindo à tona que a polícia estava investigando redes de pornografia deepfake em duas das principais universidades do país, e Ko estava convencida de que deveria haver mais.
Ela começou a pesquisar nas redes sociais, e descobriu dezenas de grupos de bate-papo no aplicativo de mensagens Telegram, em que os usuários compartilhavam fotos de mulheres que conheciam, e usavam um software de inteligência artificial para convertê-las em imagens pornográficas falsas em segundos.
“A cada minuto, as pessoas estavam enviando fotos de garotas que conheciam, e pedindo que fossem transformadas em deepfakes”, disse Ko à BBC.
Ko descobriu que estes grupos não tinham como alvo apenas estudantes universitárias. Havia salas de bate-papo dedicadas a escolas específicas do ensino médio e até mesmo do ensino fundamental.
Se fosse criado muito conteúdo usando imagens de uma aluna em particular, ela poderia até ganhar sua própria sala. Com o rótulo genérico de “salas de humilhação” ou “salas de amigas de amigos”, elas costumam ter termos de entrada rigorosos.
A reportagem de Ko, publicada no jornal Hankyoreh, chocou a Coreia do Sul. Na segunda-feira (2/9), a polícia anunciou que estava considerando abrir uma investigação sobre o Telegram, seguindo o exemplo das autoridades da França, que recentemente acusaram o fundador do aplicativo de crimes relacionados à plataforma. O governo prometeu impor punições mais severas para os envolvidos, e o presidente pediu que os jovens fossem mais educados.
O Telegram afirmou, por sua vez, que “combate ativamente conteúdo prejudicial em sua plataforma, incluindo pornografia ilegal”, em uma declaração enviada à BBC.
LEIA TAMBÉM: ‘Fui colocada em deepfake pornô pelo meu melhor amigo’
‘Pornô fake’: criminosos usam tecnologia para falsificar vídeos pornográficos
‘Um processo sistemático e organizado’
A BBC teve acesso às descrições de várias destas salas de bate-papo. Uma delas pede que os membros postem mais de quatro fotos de alguém, junto ao nome, idade e região em que a pessoa vive.
“Fiquei chocada com o quão sistemático e organizado era o processo”, declarou Ko.
“A coisa mais horrível que descobri foi um grupo para alunos menores de idade de uma escola que tinha mais de 2 mil membros.”
Nos dias após a publicação da reportagem de Ko, ativistas em defesa dos direitos das mulheres também começaram a vasculhar o Telegram — e seguir pistas.
Até o fim daquela semana, mais de 500 escolas e universidades haviam sido identificadas como alvos. O número real de pessoas afetadas ainda não foi estabelecido, mas acredita-se que muitas tenham menos de 16 anos, que é a idade de consentimento na Coreia do Sul. Uma grande parte dos supostos perpetradores são adolescentes.
Heejin disse que tomar conhecimento da dimensão da crise piorou sua ansiedade, porque ela passou a se preocupar com quantas pessoas poderiam ter visto seus deepfakes. Inicialmente, ela se culpou.
“Eu não conseguia parar de pensar que isso aconteceu porque postei minhas fotos nas redes sociais: será que eu deveria ter sido mais cuidadosa?”
Dezenas de mulheres e adolescentes em todo o país removeram suas fotos das redes sociais ou desativaram suas contas por completo, com medo de serem exploradas na sequência.
“Estamos frustradas e com raiva por termos que censurar nosso comportamento e nosso uso das redes sociais, quando não fizemos nada de errado”, desabafou Ah-eun, uma estudante universitária cujas colegas foram alvo.
Ah-eun contou que uma vítima da sua universidade foi informada pela polícia para não se preocupar em levar o caso adiante, pois seria muito difícil pegar o perpetrador — e que “não era realmente um crime”, uma vez que “as fotos eram falsas”.
No centro deste escândalo, está o aplicativo de mensagens Telegram. Diferentemente de sites públicos, que as autoridades podem acessar facilmente e, em seguida, solicitar que as imagens sejam removidas, o Telegram é um aplicativo de mensagens privado e criptografado.
Os usuários geralmente são anônimos, as salas de bate-papo podem ser configuradas como “chats secretos”, e seus conteúdos são rapidamente excluídos sem deixar rastros. Isso fez com que a plataforma se tornasse um espaço privilegiado para o comportamento criminoso prosperar.
A recusa do Telegram em aderir a programas contra abuso infantil
Na semana passada, políticos e a polícia responderam energicamente, prometendo investigar estes crimes e levar os perpetradores à Justiça.
Na segunda-feira (2/9), a Agência Nacional de Polícia de Seul anunciou que investigaria o Telegram por permitir a distribuição de imagens pornográficas falsas de crianças.
O fundador do aplicativo, Pavel Durov, foi acusado na França na semana passada de ser cúmplice de uma série de crimes relacionados ao aplicativo, incluindo permitir o compartilhamento de pornografia infantil.
Mas ativistas em defesa dos direitos das mulheres acusam as autoridades na Coreia do Sul de permitir que o abuso sexual no Telegram tenha ficado por tanto tempo sem controle, porque o país já enfrentou esta crise antes. Em 2019, descobriu-se que uma rede sexual criminosa estava usando o Telegram para coagir mulheres e crianças a criar e compartilhar imagens sexualmente explícitas de si mesmas.
Na época, a polícia pediu ajuda ao Telegram para a investigação, mas o aplicativo ignorou todas as sete solicitações. Embora o chefe da rede criminosa tenha sido condenado a mais de 40 anos de prisão, nenhuma medida foi tomada contra a plataforma, por causa de temores em relação à censura.
“Eles condenaram os protagonistas, mas, por outro lado, negligenciaram o problema, e acho que isso agravou a situação”, avalia Ko.
Park Jihyun, que revelou o escândalo conhecido como Nth room, em 2019, como uma jovem estudante de jornalismo, se tornou uma ativista política em defesa das vítimas de crimes sexuais digitais. Ela disse que desde que o escândalo do deepfake estourou, alunos e pais ligam para ela várias vezes ao dia chorando.
“Eles viram a escola deles na lista compartilhada nas redes sociais e estão apavorados.”
Park tem liderado os apelos para que o governo regule ou até mesmo proíba o aplicativo na Coreia do Sul.
“Se estas empresas de tecnologia não vão cooperar com as agências de segurança pública, o Estado precisa regulá-las para proteger seus cidadãos”, afirmou.
Antes da última crise estourar, o Centro de Defesa das Vítimas de Abuso Sexual Online da Coreia do Sul (ACOSAV, na sigla em inglês) já estava notando um aumento acentuado no número de vítimas menores de idade da pornografia deepfake.
Em 2023, eles aconselharam 86 vítimas adolescentes. Este número saltou para 238 apenas nos primeiros oito meses deste ano. Só na semana passada, outras 64 vítimas adolescentes se apresentaram.
Uma das líderes do centro, Park Seonghye, contou que na última semana sua equipe recebeu uma enxurrada de ligações — e estava trabalhando 24 horas por dia.
“Foi uma emergência em grande escala para nós, como uma situação de guerra”, afirmou.
“Com a tecnologia deepfake mais avançada, agora há muito mais imagens do que costumava haver, e estamos preocupados que isso só vai aumentar.”
Além de aconselhar as vítimas, o centro monitora conteúdo prejudicial e trabalha com as plataformas digitais para removê-lo. Park disse que houve alguns casos em que o Telegram removeu conteúdo a pedido deles.
“Portanto, não é impossível”, observou.
‘Deepfake ao vivo’: tecnologia que muda rosto e voz em videochamada já existe na vida real
Em uma declaração, o Telegram disse à BBC que seus moderadores “monitoram proativamente partes públicas do aplicativo, usam ferramentas de IA e aceitam denúncias de usuários para remover milhões de conteúdos todos os dias que violam os termos de uso do Telegram”.
Embora as organizações de direito das mulheres admitam que a inteligência artificial está facilitando a exploração das vítimas, elas argumentam que esta é apenas a forma mais recente de misoginia online a se manifestar na Coreia do Sul.
Primeiro, as mulheres foram submetidas a ondas de abuso verbal na internet. Depois, veio a epidemia de câmeras escondidas, na qual elas foram filmadas, sem conhecimento, usando banheiros públicos e vestiários.
“A causa principal disso é o sexismo estrutural, e a solução é a igualdade de gênero”, diz uma declaração assinada por 84 grupos de mulheres.
Esta é uma crítica direta ao presidente do país, Yoon Suk Yeol, que negou a existência de sexismo estrutural, cortou o financiamento para grupos de apoio às vítimas e está abolindo o Ministério da Igualdade de Gênero do governo.
Lee Myung-hwa, que trata de jovens infratores sexuais, concorda que, embora o surto de abuso de deepfake possa parecer repentino, ele já estava há muito tempo à espreita.
“Para os adolescentes, os deepfakes se tornaram parte da sua cultura, são vistos como um jogo ou uma pegadinha”, afirmou a terapeuta, que dirige o Aha Seoul Youth Cultural Centre.
Lee acrescentou que era fundamental educar os jovens, citando pesquisas que mostram que quando se diz aos infratores exatamente o que eles fizeram de errado, eles se tornam mais conscientes do que é considerado abuso sexual, o que os impede de reincidir.
Enquanto isso, o governo disse que vai aumentar as penas para aqueles que criam e compartilham imagens deepfake — e também vai punir aqueles que veem pornografia.
Isso foi anunciado após críticas de que não havia perpetradores suficientes sendo punidos. Um dos problemas é que a maioria dos suspeitos são adolescentes, que normalmente são julgados pela vara da infância e da juventude, onde recebem penas mais brandas.
Desde que as salas de bate-papo foram expostas, muitas foram fechadas, mas novas certamente vão ocupar seu lugar. Uma sala da humilhação já foi criada para atingir jornalistas que estão cobrindo este caso. Ko, que deu a notícia, diz que isso tem tirado seu sono.
“Continuo checando a sala para ver se minha foto foi enviada”, revela.
Esta ansiedade é vivenciada por quase todas as adolescentes e mulheres jovens da Coreia do Sul. Ah-eun, a estudante universitária, disse que isso a fez desconfiar de conhecidos homens.
“Agora não posso ter certeza de que as pessoas não vão cometer esses crimes pelas minhas costas, sem que eu saiba”, afirmou.
“Me tornei hipervigilante em todas as minhas interações com as pessoas, o que não pode ser bom.”
*Reportagem adicional de Hosu Lee e Suhnwook Lee.

Pornografia deepfake se espalha por escolas da Coreia do Sul e vítimas são jovens estudantes

Escândalo envolve mais de 500 escolas e universidades — e muitas vítimas menores de idade. Telegram está sendo usado para espalhar pornografia gerada por meio de deepfakes
BBC
No último sábado (31/8), apareceu uma mensagem do Telegram no celular de Heejin, enviada por um remetente anônimo.
“Suas fotos e informações pessoais vazaram. Vamos conversar.”
Quando a estudante universitária, da Coreia do Sul, entrou no bate-papo para ler a mensagem, recebeu uma foto sua tirada alguns anos atrás, enquanto ainda estava na escola, seguida por uma segunda imagem, usando a mesma foto, só que sexualmente explícita — e falsa.
Apavorada, Heejin, que não é seu nome verdadeiro, não respondeu, mas as imagens continuaram chegando.
Em todas elas, seu rosto havia sido anexado a um corpo realizando um ato sexual, usando a sofisticada tecnologia de deepfake.
A pornografia deepfake — que combina, em sua maioria, o rosto de uma pessoa real com um corpo falso e sexualmente explícito — está sendo gerada cada vez mais por meio de ferramentas de inteligência artificial.
O que é deepfake e como ele é usado para distorcer realidade
O trauma devastador de quem teve imagem usada em ‘deepfakes’ pornôs
“Fiquei petrificada, me senti tão sozinha”, contou Heejin à BBC. Mas ela não estava sozinha.
Dois dias antes, a jornalista sul-coreana Ko Narin havia publicado o que se tornaria o maior furo de reportagem da sua carreira. Recentemente, tinha vindo à tona que a polícia estava investigando redes de pornografia deepfake em duas das principais universidades do país, e Ko estava convencida de que deveria haver mais.
Ela começou a pesquisar nas redes sociais, e descobriu dezenas de grupos de bate-papo no aplicativo de mensagens Telegram, em que os usuários compartilhavam fotos de mulheres que conheciam, e usavam um software de inteligência artificial para convertê-las em imagens pornográficas falsas em segundos.
“A cada minuto, as pessoas estavam enviando fotos de garotas que conheciam, e pedindo que fossem transformadas em deepfakes”, disse Ko à BBC.
Ko descobriu que estes grupos não tinham como alvo apenas estudantes universitárias. Havia salas de bate-papo dedicadas a escolas específicas do ensino médio e até mesmo do ensino fundamental.
Se fosse criado muito conteúdo usando imagens de uma aluna em particular, ela poderia até ganhar sua própria sala. Com o rótulo genérico de “salas de humilhação” ou “salas de amigas de amigos”, elas costumam ter termos de entrada rigorosos.
A reportagem de Ko, publicada no jornal Hankyoreh, chocou a Coreia do Sul. Na segunda-feira (2/9), a polícia anunciou que estava considerando abrir uma investigação sobre o Telegram, seguindo o exemplo das autoridades da França, que recentemente acusaram o fundador do aplicativo de crimes relacionados à plataforma. O governo prometeu impor punições mais severas para os envolvidos, e o presidente pediu que os jovens fossem mais educados.
O Telegram afirmou, por sua vez, que “combate ativamente conteúdo prejudicial em sua plataforma, incluindo pornografia ilegal”, em uma declaração enviada à BBC.
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‘Pornô fake’: criminosos usam tecnologia para falsificar vídeos pornográficos
‘Um processo sistemático e organizado’
A BBC teve acesso às descrições de várias destas salas de bate-papo. Uma delas pede que os membros postem mais de quatro fotos de alguém, junto ao nome, idade e região em que a pessoa vive.
“Fiquei chocada com o quão sistemático e organizado era o processo”, declarou Ko.
“A coisa mais horrível que descobri foi um grupo para alunos menores de idade de uma escola que tinha mais de 2 mil membros.”
Nos dias após a publicação da reportagem de Ko, ativistas em defesa dos direitos das mulheres também começaram a vasculhar o Telegram — e seguir pistas.
Até o fim daquela semana, mais de 500 escolas e universidades haviam sido identificadas como alvos. O número real de pessoas afetadas ainda não foi estabelecido, mas acredita-se que muitas tenham menos de 16 anos, que é a idade de consentimento na Coreia do Sul. Uma grande parte dos supostos perpetradores são adolescentes.
Heejin disse que tomar conhecimento da dimensão da crise piorou sua ansiedade, porque ela passou a se preocupar com quantas pessoas poderiam ter visto seus deepfakes. Inicialmente, ela se culpou.
“Eu não conseguia parar de pensar que isso aconteceu porque postei minhas fotos nas redes sociais: será que eu deveria ter sido mais cuidadosa?”
Dezenas de mulheres e adolescentes em todo o país removeram suas fotos das redes sociais ou desativaram suas contas por completo, com medo de serem exploradas na sequência.
“Estamos frustradas e com raiva por termos que censurar nosso comportamento e nosso uso das redes sociais, quando não fizemos nada de errado”, desabafou Ah-eun, uma estudante universitária cujas colegas foram alvo.
Ah-eun contou que uma vítima da sua universidade foi informada pela polícia para não se preocupar em levar o caso adiante, pois seria muito difícil pegar o perpetrador — e que “não era realmente um crime”, uma vez que “as fotos eram falsas”.
No centro deste escândalo, está o aplicativo de mensagens Telegram. Diferentemente de sites públicos, que as autoridades podem acessar facilmente e, em seguida, solicitar que as imagens sejam removidas, o Telegram é um aplicativo de mensagens privado e criptografado.
Os usuários geralmente são anônimos, as salas de bate-papo podem ser configuradas como “chats secretos”, e seus conteúdos são rapidamente excluídos sem deixar rastros. Isso fez com que a plataforma se tornasse um espaço privilegiado para o comportamento criminoso prosperar.
A recusa do Telegram em aderir a programas contra abuso infantil
Na semana passada, políticos e a polícia responderam energicamente, prometendo investigar estes crimes e levar os perpetradores à Justiça.
Na segunda-feira (2/9), a Agência Nacional de Polícia de Seul anunciou que investigaria o Telegram por permitir a distribuição de imagens pornográficas falsas de crianças.
O fundador do aplicativo, Pavel Durov, foi acusado na França na semana passada de ser cúmplice de uma série de crimes relacionados ao aplicativo, incluindo permitir o compartilhamento de pornografia infantil.
Mas ativistas em defesa dos direitos das mulheres acusam as autoridades na Coreia do Sul de permitir que o abuso sexual no Telegram tenha ficado por tanto tempo sem controle, porque o país já enfrentou esta crise antes. Em 2019, descobriu-se que uma rede sexual criminosa estava usando o Telegram para coagir mulheres e crianças a criar e compartilhar imagens sexualmente explícitas de si mesmas.
Na época, a polícia pediu ajuda ao Telegram para a investigação, mas o aplicativo ignorou todas as sete solicitações. Embora o chefe da rede criminosa tenha sido condenado a mais de 40 anos de prisão, nenhuma medida foi tomada contra a plataforma, por causa de temores em relação à censura.
“Eles condenaram os protagonistas, mas, por outro lado, negligenciaram o problema, e acho que isso agravou a situação”, avalia Ko.
Park Jihyun, que revelou o escândalo conhecido como Nth room, em 2019, como uma jovem estudante de jornalismo, se tornou uma ativista política em defesa das vítimas de crimes sexuais digitais. Ela disse que desde que o escândalo do deepfake estourou, alunos e pais ligam para ela várias vezes ao dia chorando.
“Eles viram a escola deles na lista compartilhada nas redes sociais e estão apavorados.”
Park tem liderado os apelos para que o governo regule ou até mesmo proíba o aplicativo na Coreia do Sul.
“Se estas empresas de tecnologia não vão cooperar com as agências de segurança pública, o Estado precisa regulá-las para proteger seus cidadãos”, afirmou.
Antes da última crise estourar, o Centro de Defesa das Vítimas de Abuso Sexual Online da Coreia do Sul (ACOSAV, na sigla em inglês) já estava notando um aumento acentuado no número de vítimas menores de idade da pornografia deepfake.
Em 2023, eles aconselharam 86 vítimas adolescentes. Este número saltou para 238 apenas nos primeiros oito meses deste ano. Só na semana passada, outras 64 vítimas adolescentes se apresentaram.
Uma das líderes do centro, Park Seonghye, contou que na última semana sua equipe recebeu uma enxurrada de ligações — e estava trabalhando 24 horas por dia.
“Foi uma emergência em grande escala para nós, como uma situação de guerra”, afirmou.
“Com a tecnologia deepfake mais avançada, agora há muito mais imagens do que costumava haver, e estamos preocupados que isso só vai aumentar.”
Além de aconselhar as vítimas, o centro monitora conteúdo prejudicial e trabalha com as plataformas digitais para removê-lo. Park disse que houve alguns casos em que o Telegram removeu conteúdo a pedido deles.
“Portanto, não é impossível”, observou.
‘Deepfake ao vivo’: tecnologia que muda rosto e voz em videochamada já existe na vida real
Em uma declaração, o Telegram disse à BBC que seus moderadores “monitoram proativamente partes públicas do aplicativo, usam ferramentas de IA e aceitam denúncias de usuários para remover milhões de conteúdos todos os dias que violam os termos de uso do Telegram”.
Embora as organizações de direito das mulheres admitam que a inteligência artificial está facilitando a exploração das vítimas, elas argumentam que esta é apenas a forma mais recente de misoginia online a se manifestar na Coreia do Sul.
Primeiro, as mulheres foram submetidas a ondas de abuso verbal na internet. Depois, veio a epidemia de câmeras escondidas, na qual elas foram filmadas, sem conhecimento, usando banheiros públicos e vestiários.
“A causa principal disso é o sexismo estrutural, e a solução é a igualdade de gênero”, diz uma declaração assinada por 84 grupos de mulheres.
Esta é uma crítica direta ao presidente do país, Yoon Suk Yeol, que negou a existência de sexismo estrutural, cortou o financiamento para grupos de apoio às vítimas e está abolindo o Ministério da Igualdade de Gênero do governo.
Lee Myung-hwa, que trata de jovens infratores sexuais, concorda que, embora o surto de abuso de deepfake possa parecer repentino, ele já estava há muito tempo à espreita.
“Para os adolescentes, os deepfakes se tornaram parte da sua cultura, são vistos como um jogo ou uma pegadinha”, afirmou a terapeuta, que dirige o Aha Seoul Youth Cultural Centre.
Lee acrescentou que era fundamental educar os jovens, citando pesquisas que mostram que quando se diz aos infratores exatamente o que eles fizeram de errado, eles se tornam mais conscientes do que é considerado abuso sexual, o que os impede de reincidir.
Enquanto isso, o governo disse que vai aumentar as penas para aqueles que criam e compartilham imagens deepfake — e também vai punir aqueles que veem pornografia.
Isso foi anunciado após críticas de que não havia perpetradores suficientes sendo punidos. Um dos problemas é que a maioria dos suspeitos são adolescentes, que normalmente são julgados pela vara da infância e da juventude, onde recebem penas mais brandas.
Desde que as salas de bate-papo foram expostas, muitas foram fechadas, mas novas certamente vão ocupar seu lugar. Uma sala da humilhação já foi criada para atingir jornalistas que estão cobrindo este caso. Ko, que deu a notícia, diz que isso tem tirado seu sono.
“Continuo checando a sala para ver se minha foto foi enviada”, revela.
Esta ansiedade é vivenciada por quase todas as adolescentes e mulheres jovens da Coreia do Sul. Ah-eun, a estudante universitária, disse que isso a fez desconfiar de conhecidos homens.
“Agora não posso ter certeza de que as pessoas não vão cometer esses crimes pelas minhas costas, sem que eu saiba”, afirmou.
“Me tornei hipervigilante em todas as minhas interações com as pessoas, o que não pode ser bom.”
*Reportagem adicional de Hosu Lee e Suhnwook Lee.

Starlink volta atrás e diz que cumprirá ordem de bloqueio do X no Brasil

Provedora de internet por satélite de Elon Musk disse no domingo (1) que só iria suspender acesso dos usuários se os seus recursos forem desbloqueados pela Justiça. Starlink volta atrás e diz que cumprirá ordem de bloqueio do X no Brasil
A Starlink, empresa de internet via satélite de Elon Musk, disse nesta terça-feira (3), que irá cumprir a decisão de bloquear o X no Brasil.
No último domingo (3), a companhia havia dito que não seguiria a determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que ordenou que as operadoras tirassem a rede social do ar por não indicar um representante no Brasil.
Nesta terça, a empresa voltou atrás.
“Independentemente do tratamento ilegal dado à Starlink no congelamento de nossos ativos, estamos cumprindo a ordem de bloquear o acesso ao X no Brasil”, disse a Starlink em um post no X, segundo a agência Reuters.
A Starlink disse ainda que iniciou um processo legal na Suprema Corte dos Estados Unidos, onde a empresa tem sede, explicando a “ilegalidade grosseira” da ordem de Moraes, que congelou as finanças da companhia e a impediu de realizar transações financeiras no Brasil.
A empresa acrescentou que continua a buscar todos os caminhos legais, e que outros concordam que as “ordens recentes do ministro violam a Constituição brasileira”.
Contas bloqueadas
O presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Carlos Baigorri, chegou a dizer que a empresa poderia perder a autorização para operar no país se não cumprisse a determinação judicial.
A Starlink tinha se recusado a atender à ordem de Moraes enquanto suas contas não fossem desbloqueadas no Brasil.
O bloqueio de R$ 2 milhões das contas da companhia foi determinado por Moraes em razão do descumprimento de uma série de ordens judiciais pela rede social X, que não tem mais representante no Brasil. A decisão do ministro foi disparada no último dia 24 e a Starlink foi notificada no dia 27.
Nessa decisão, Moraes considerou que as duas empresas fazem parte do mesmo grupo econômico, chefiado por Musk.
Com cerca de 200 mil clientes, a Starlink lidera o segmento de internet por satélite no Brasil, que representa 1% dos acessos no país, segundo a Anatel. Ela é um braço da SpaceX, do segmento de transporte aeroespacial.
O prazo para Starlink recorrer do bloqueio de suas contas terminou na última segunda-feira (2), sem a manifestação da empresa.
Em vez de recorrer no processo contra Moraes, a Starlink optou por ingressar com um mandado de segurança, um instrumento processual incorreto para reverter decisões monocráticas no STF. O mandado foi recusado pelo ministro Cristiano Zanin na última sexta.
O que levou ao bloqueio do X
O X vinha se negando a restringir perfis acusados de atentar contra instituições democráticas e também acumulou R$ 18,3 milhões em multas devidas à Justiça brasileira pelo descumprimento dessas ordens.
No último dia 17, em meio à escalada da tensão com o STF, a empresa fechou seu escritório no Brasil, demitiu os funcionários e retirou sua representante.
A rede social não atendeu ao prazo de 24 horas dado por Moraes, a partir da noite de quinta (29), para indicar um novo responsável no país. E, por isso, o ministro determinou na sexta (30) que as operadoras de todo o país deveriam suspender o acesso ao X.
Leia também:
Por que estudantes conseguiram acessar o X nas universidades? ‘Vim pra faculdade só por isso’, diz aluna
Como foi a reunião em que CEO do X demitiu equipe inteira no Brasil

Por que estudantes conseguiram acessar o X nas universidades? ‘Vim pra faculdade só por isso’, diz aluna

Por meio do Wi-Fi ‘Eduroam’, que conecta universidades e institutos de pesquisa à internet, ainda era possível entrar no X até segunda-feira (2), mesmo após a suspensão da plataforma de Elon Musk no Brasil. Acesso só foi interrompido no início da tarde, após reunião da 1ª Turma do STF. Estudante posta no TikTok que conseguiu acessar o X na universidade
Reprodução/Redes sociais
“Vim para a faculdade só para conseguir usar o Twitter”, escreveu uma aluna da Universidade de São Paulo (USP) na manhã de segunda-feira (2). Na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), outra estudante também comemorou que o X “estava vivo” por lá — e postou até tutorial no TikTok de como acessá-lo.
Aos poucos, alunos de faculdades brasileiras de diferentes estados perceberam que, pelo Wi-Fi das instituições de ensino, a rede social não havia sido bloqueada mesmo após a suspensão ordenada no último sábado (31) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Abaixo, entenda a explicação para isso e saiba se o acesso permanece liberado nesses locais.
Rede Wi-Fi “Eduroam” é acessada em universidades públicas e institutos de pesquisa, por exemplo
Reprodução
✏️Mas por quê? Existe um serviço internacional gratuito de Wi-Fi, chamado de “Eduroam”, que possibilita a conexão de alunos e professores à internet sempre que estiverem nos lugares cadastrados no programa.
Um estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por exemplo, pode usar seu login e sua senha para acessar o Wi-Fi da Universidade de Cambrige, quando for à Inglaterra, ou da Universidade de Toronto, em uma viagem ao Canadá.
E é aí que entra a solução do mistério: a “Eduroam” é uma rede independente, com fins acadêmicos, e não está sob a jurisdição da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). É como se, para proteger os dados dos usuários e garantir o acesso a documentos internos (como uma apostila de um curso, por exemplo), ela andasse em uma “faixa exclusiva” no “trânsito da internet”.
“[A Eduroam] tem uma conexão direta com o Twitter, que não passa exatamente pelas operadoras de internet cadastradas na Anatel”, explica Thiago Ayub, diretor de tecnologia da empresa de telecomunicações Sage Networks.
📱Os alunos ainda estão conseguindo acessar o X nas faculdades? Na maior parte dos casos, não. A “farra” durou pouco.
Na USP, por exemplo, o bloqueio entrou em vigor ao meio-dia de segunda-feira.
Segundo a Rede Nacional de Pesquisas (RNP), que administra a “Eduroam” no Brasil, o X foi bloqueado nas universidades e instituições de pesquisa no início da tarde de segunda-feira (2), “assim que se tornou pública a decisão da 1ª turma do STF de suspender a rede social”, informou a empresa ao g1.
“Caso [ainda] ocorram acessos o X por universidades e outras instituições de pesquisa, a conexão com a internet não tem relação com a RNP.”
Quem foi à faculdade nesta terça (3) com a pretensão de usar a rede de Elon Musk ficou frustrado. “Eduroam bloqueou o Twitter e deixou os universitários na mão 😭😭”, postou um aluno.
🖥️E no trabalho? Por que ainda tem gente acessando o X?
Relatos no Downdetector, site que monitora o funcionamento de serviços on-line, apontam casos de funcionários de empresas que conseguem usar o X por meio do serviço de VPN (sigla em inglês para “rede privada virtual”) corporativa, voltada para acessar sistemas do trabalho, por exemplo.
“Na VPN, os dados não passam pela internet pública. As empresas usam esse recurso para trocar documentos confidenciais. É uma rede toda criptografada, onde só entra quem está autorizado”, explica Carlos Neves, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e arquiteto de software da ferramenta Smooh.
É uma espécie de túnel criado para conectar o computador ou o celular do funcionário diretamente à rede corporativa. Se o fornecedor de internet contratado pela companhia ainda não realizou o bloqueio do X, será possível acessar a plataforma por meio desta conexão.
De forma geral, isso acontece por conta de um dos motivos abaixo:
O provedor começou, mas ainda não concluiu o bloqueio – a Anatel diz que notificou as empresas e que elas têm até cinco dias para derrubar o acesso ao X, apesar de este prazo não estar previsto na ordem de Moraes (veja nota ao final).
O provedor optou deliberadamente por não bloquear o X e não cumprir a decisão do ministro, como disse a Starlink, serviço de internet via satélite do bilionário Elon Musk, que também é dono da rede social.
O provedor recebeu a notificação, mas cometeu algum erro no bloqueio que fez o acesso não ser cortado de forma completa.
“Há empresas que receberam o comunicado, executaram o bloqueio, mas o fizeram de forma ineficaz. Aí, alguns clientes acabam acessando acidentalmente”, explica Ayub.
🏠Em casa, provedores locais de internet podem acessar o X?
Usuários também afirmam que ainda conseguem acessar o X em casa e sem VPN, porque assinam planos de internet junto a provedores locais de internet. Nestes casos, é possível que as empresas ainda não tenham concluído o bloqueio que já foi feito por provedores maiores.
A Conexis Brasil Digital, que representa as operadoras Claro, Tim, Vivo, Oi, Algar Telecom e Sercomtel, disse na última sexta (30) que “as suas associadas confirmam o recebimento da notificação e cumprirão decisões judiciais aplicáveis às suas redes”.
A TelComp, que representa mais de 50 operadoras, incluindo provedores regionais, afirmou que todas as suas associadas receberam a notificação e seguiram com o bloqueio”.
Veja a íntegra da nota da Anatel:
“A Anatel teve 24 horas (a partir do recebimento da ordem do ministro Alexandre de Morais) para notificar as prestadoras. As empresas foram notificadas dentro do prazo. A Agência informou o cumprimento ao STF, às 17h, de sábado. As prestadoras têm até 5 dias (após a comunicação da Anatel) para derrubar o acesso ao X.
A partir de hoje, dia 02/09, a fiscalização da Anatel está verificando o cumprimento da ordem por parte de mais de 20 mil empresas.”
Qual rede social substitui o X?

Starlink volta atrás e diz que cumprirá ordem de bloqueio do X no Brasil

Provedora de internet por satélite de Elon Musk disse no domingo (1) que só iria suspender acesso dos usuários se os seus recursos forem desbloqueados pela Justiça. Starlink volta atrás e diz que cumprirá ordem de bloqueio do X no Brasil
A Starlink, empresa de internet via satélite de Elon Musk, disse nesta terça-feira (3), que irá cumprir a decisão de bloquear o X no Brasil.
No último domingo (3), a companhia havia dito que não seguiria a determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que ordenou que as operadoras tirassem a rede social do ar por não indicar um representante no Brasil.
Nesta terça, a empresa voltou atrás.
“Independentemente do tratamento ilegal dado à Starlink no congelamento de nossos ativos, estamos cumprindo a ordem de bloquear o acesso ao X no Brasil”, disse a Starlink em um post no X, segundo a agência Reuters.
A Starlink disse ainda que iniciou um processo legal na Suprema Corte dos Estados Unidos, onde a empresa tem sede, explicando a “ilegalidade grosseira” da ordem de Moraes, que congelou as finanças da companhia e a impediu de realizar transações financeiras no Brasil.
A empresa acrescentou que continua a buscar todos os caminhos legais, e que outros concordam que as “ordens recentes do ministro violam a Constituição brasileira”.
Contas bloqueadas
O presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Carlos Baigorri, chegou a dizer que a empresa poderia perder a autorização para operar no país se não cumprisse a determinação judicial.
A Starlink tinha se recusado a atender à ordem de Moraes enquanto suas contas não fossem desbloqueadas no Brasil.
O bloqueio de R$ 2 milhões das contas da companhia foi determinado por Moraes em razão do descumprimento de uma série de ordens judiciais pela rede social X, que não tem mais representante no Brasil. A decisão do ministro foi disparada no último dia 24 e a Starlink foi notificada no dia 27.
Nessa decisão, Moraes considerou que as duas empresas fazem parte do mesmo grupo econômico, chefiado por Musk.
Com cerca de 200 mil clientes, a Starlink lidera o segmento de internet por satélite no Brasil, que representa 1% dos acessos no país, segundo a Anatel. Ela é um braço da SpaceX, do segmento de transporte aeroespacial.
O prazo para Starlink recorrer do bloqueio de suas contas terminou na última segunda-feira (2), sem a manifestação da empresa.
Em vez de recorrer no processo contra Moraes, a Starlink optou por ingressar com um mandado de segurança, um instrumento processual incorreto para reverter decisões monocráticas no STF. O mandado foi recusado pelo ministro Cristiano Zanin na última sexta.
O que levou ao bloqueio do X
O X vinha se negando a restringir perfis acusados de atentar contra instituições democráticas e também acumulou R$ 18,3 milhões em multas devidas à Justiça brasileira pelo descumprimento dessas ordens.
No último dia 17, em meio à escalada da tensão com o STF, a empresa fechou seu escritório no Brasil, demitiu os funcionários e retirou sua representante.
A rede social não atendeu ao prazo de 24 horas dado por Moraes, a partir da noite de quinta (29), para indicar um novo responsável no país. E, por isso, o ministro determinou na sexta (30) que as operadoras de todo o país deveriam suspender o acesso ao X.
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Por meio do Wi-Fi ‘Eduroam’, que conecta universidades e institutos de pesquisa à internet, ainda era possível entrar no X até segunda-feira (2), mesmo após a suspensão da plataforma de Elon Musk no Brasil. Acesso só foi interrompido no início da tarde, após reunião da 1ª Turma do STF. Estudante posta no TikTok que conseguiu acessar o X na universidade
Reprodução/Redes sociais
“Vim para a faculdade só para conseguir usar o Twitter”, escreveu uma aluna da Universidade de São Paulo (USP) na manhã de segunda-feira (2). Na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), outra estudante também comemorou que o X “estava vivo” por lá — e postou até tutorial no TikTok de como acessá-lo.
Aos poucos, alunos de faculdades brasileiras de diferentes estados perceberam que, pelo Wi-Fi das instituições de ensino, a rede social não havia sido bloqueada mesmo após a suspensão ordenada no último sábado (31) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Abaixo, entenda a explicação para isso e saiba se o acesso permanece liberado nesses locais.
Rede Wi-Fi “Eduroam” é acessada em universidades públicas e institutos de pesquisa, por exemplo
Reprodução
✏️Mas por quê? Existe um serviço internacional gratuito de Wi-Fi, chamado de “Eduroam”, que possibilita a conexão de alunos e professores à internet sempre que estiverem nos lugares cadastrados no programa.
Um estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por exemplo, pode usar seu login e sua senha para acessar o Wi-Fi da Universidade de Cambrige, quando for à Inglaterra, ou da Universidade de Toronto, em uma viagem ao Canadá.
E é aí que entra a solução do mistério: a “Eduroam” é uma rede independente, com fins acadêmicos, e não está sob a jurisdição da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). É como se, para proteger os dados dos usuários e garantir o acesso a documentos internos (como uma apostila de um curso, por exemplo), ela andasse em uma “faixa exclusiva” no “trânsito da internet”.
“[A Eduroam] tem uma conexão direta com o Twitter, que não passa exatamente pelas operadoras de internet cadastradas na Anatel”, explica Thiago Ayub, diretor de tecnologia da empresa de telecomunicações Sage Networks.
📱Os alunos ainda estão conseguindo acessar o X nas faculdades? Na maior parte dos casos, não. A “farra” durou pouco.
Na USP, por exemplo, o bloqueio entrou em vigor ao meio-dia de segunda-feira.
Segundo a Rede Nacional de Pesquisas (RNP), que administra a “Eduroam” no Brasil, o X foi bloqueado nas universidades e instituições de pesquisa no início da tarde de segunda-feira (2), “assim que se tornou pública a decisão da 1ª turma do STF de suspender a rede social”, informou a empresa ao g1.
“Caso [ainda] ocorram acessos o X por universidades e outras instituições de pesquisa, a conexão com a internet não tem relação com a RNP.”
Quem foi à faculdade nesta terça (3) com a pretensão de usar a rede de Elon Musk ficou frustrado. “Eduroam bloqueou o Twitter e deixou os universitários na mão 😭😭”, postou um aluno.
🖥️E no trabalho? Por que ainda tem gente acessando o X?
Relatos no Downdetector, site que monitora o funcionamento de serviços on-line, apontam casos de funcionários de empresas que conseguem usar o X por meio do serviço de VPN (sigla em inglês para “rede privada virtual”) corporativa, voltada para acessar sistemas do trabalho, por exemplo.
“Na VPN, os dados não passam pela internet pública. As empresas usam esse recurso para trocar documentos confidenciais. É uma rede toda criptografada, onde só entra quem está autorizado”, explica Carlos Neves, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e arquiteto de software da ferramenta Smooh.
É uma espécie de túnel criado para conectar o computador ou o celular do funcionário diretamente à rede corporativa. Se o fornecedor de internet contratado pela companhia ainda não realizou o bloqueio do X, será possível acessar a plataforma por meio desta conexão.
De forma geral, isso acontece por conta de um dos motivos abaixo:
O provedor começou, mas ainda não concluiu o bloqueio – a Anatel diz que notificou as empresas e que elas têm até cinco dias para derrubar o acesso ao X, apesar de este prazo não estar previsto na ordem de Moraes (veja nota ao final).
O provedor optou deliberadamente por não bloquear o X e não cumprir a decisão do ministro, como disse a Starlink, serviço de internet via satélite do bilionário Elon Musk, que também é dono da rede social.
O provedor recebeu a notificação, mas cometeu algum erro no bloqueio que fez o acesso não ser cortado de forma completa.
“Há empresas que receberam o comunicado, executaram o bloqueio, mas o fizeram de forma ineficaz. Aí, alguns clientes acabam acessando acidentalmente”, explica Ayub.
🏠Em casa, provedores locais de internet podem acessar o X?
Usuários também afirmam que ainda conseguem acessar o X em casa e sem VPN, porque assinam planos de internet junto a provedores locais de internet. Nestes casos, é possível que as empresas ainda não tenham concluído o bloqueio que já foi feito por provedores maiores.
A Conexis Brasil Digital, que representa as operadoras Claro, Tim, Vivo, Oi, Algar Telecom e Sercomtel, disse na última sexta (30) que “as suas associadas confirmam o recebimento da notificação e cumprirão decisões judiciais aplicáveis às suas redes”.
A TelComp, que representa mais de 50 operadoras, incluindo provedores regionais, afirmou que todas as suas associadas receberam a notificação e seguiram com o bloqueio”.
Veja a íntegra da nota da Anatel:
“A Anatel teve 24 horas (a partir do recebimento da ordem do ministro Alexandre de Morais) para notificar as prestadoras. As empresas foram notificadas dentro do prazo. A Agência informou o cumprimento ao STF, às 17h, de sábado. As prestadoras têm até 5 dias (após a comunicação da Anatel) para derrubar o acesso ao X.
A partir de hoje, dia 02/09, a fiscalização da Anatel está verificando o cumprimento da ordem por parte de mais de 20 mil empresas.”
Qual rede social substitui o X?

Meta começará a notificar nesta terça-feira usuários no Brasil sobre uso de dados para treinar IA

Após suspensão, big tech apresentou plano de conformidade e anunciou medidas visando aumentar transparência da prática. Meta Inteligência Artificial
REUTERS/Dado Ruvic/Illustration/File Photo
A Meta começará a notificar usuários do Facebook e do Instagram no Brasil a partir desta terça-feira sobre o uso de inteligência artificial, após a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) suspender a proibição para a empresa usar dados pessoais para treinar seus modelos de IA.
“A empresa mostrará notificações no Facebook e no Instagram e enviará e-mails para que os usuários no Brasil saibam como a Meta planeja expandir as suas experiências de IA”, afirmou a companhia em comunicado, acrescentando que se trata de uma resposta às recomendações da ANPD.
No começo de julho, em uma medida preventiva, a ANPD suspendeu o uso de dados pessoais para treinamento da IA generativa pela empresa Meta, por considerar que tal tratamento poderia acarretar risco iminente de ocorrência de danos graves e irreparáveis ou de difícil reparação aos titulares.
A suspensão da medida na última sexta-feira, segundo a ANPD, ocorre após recurso enviado pela Meta, com base em documentação apresentada pela empresa e em compromissos por ela assumidos.
As notificações fazem parte do Plano de Conformidade aprovado, que inclui atualização da Aviso de Privacidade, com os usuários sendo informados sobre o direito de manifestar oposição ao tratamento de dados para fins de treinamento de IA e exercer tal direito de forma facilitada.
Mesmo após o início da utilização dos dados pessoais pela Meta, que somente ocorrerá após 30 dias do início das notificações, de acordo com a ANPD, tanto usuários como não-usuários poderão exercer esse direito.
Em comunicado nesta terça-feira, a Meta disse que serão utilizadas informações públicas de contas de usuários em suas plataformas para desenvolver e melhorar modelos de IA generativa para recursos e experiências de IA na Meta no Brasil.
A companhia também disse que está atualizando a sua Política de Privacidade e o Aviso de Privacidade do Brasil para refletir essas mudanças e data em que entrarão em vigor, com as notificações e os e-mails incluindo links para o formulário de oposição.
O Plano de Conformidade ainda prevê o compromisso da Meta de não usar dados pessoais de contas de menores de dezoito anos para treinar o seu modelo de IA, até que uma decisão definitiva seja tomada pela ANPD no âmbito do processo de fiscalização.
“A Meta está trabalhando arduamente para construir a próxima geração de recursos de IA em seus serviços, garantindo que isso seja feito de maneira segura, responsável e consciente, e que atenda às expectativas de privacidade das pessoas”, afirmou no comunicado.

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Após suspensão, big tech apresentou plano de conformidade e anunciou medidas visando aumentar transparência da prática. Meta Inteligência Artificial
REUTERS/Dado Ruvic/Illustration/File Photo
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“A empresa mostrará notificações no Facebook e no Instagram e enviará e-mails para que os usuários no Brasil saibam como a Meta planeja expandir as suas experiências de IA”, afirmou a companhia em comunicado, acrescentando que se trata de uma resposta às recomendações da ANPD.
No começo de julho, em uma medida preventiva, a ANPD suspendeu o uso de dados pessoais para treinamento da IA generativa pela empresa Meta, por considerar que tal tratamento poderia acarretar risco iminente de ocorrência de danos graves e irreparáveis ou de difícil reparação aos titulares.
A suspensão da medida na última sexta-feira, segundo a ANPD, ocorre após recurso enviado pela Meta, com base em documentação apresentada pela empresa e em compromissos por ela assumidos.
As notificações fazem parte do Plano de Conformidade aprovado, que inclui atualização da Aviso de Privacidade, com os usuários sendo informados sobre o direito de manifestar oposição ao tratamento de dados para fins de treinamento de IA e exercer tal direito de forma facilitada.
Mesmo após o início da utilização dos dados pessoais pela Meta, que somente ocorrerá após 30 dias do início das notificações, de acordo com a ANPD, tanto usuários como não-usuários poderão exercer esse direito.
Em comunicado nesta terça-feira, a Meta disse que serão utilizadas informações públicas de contas de usuários em suas plataformas para desenvolver e melhorar modelos de IA generativa para recursos e experiências de IA na Meta no Brasil.
A companhia também disse que está atualizando a sua Política de Privacidade e o Aviso de Privacidade do Brasil para refletir essas mudanças e data em que entrarão em vigor, com as notificações e os e-mails incluindo links para o formulário de oposição.
O Plano de Conformidade ainda prevê o compromisso da Meta de não usar dados pessoais de contas de menores de dezoito anos para treinar o seu modelo de IA, até que uma decisão definitiva seja tomada pela ANPD no âmbito do processo de fiscalização.
“A Meta está trabalhando arduamente para construir a próxima geração de recursos de IA em seus serviços, garantindo que isso seja feito de maneira segura, responsável e consciente, e que atenda às expectativas de privacidade das pessoas”, afirmou no comunicado.

Bluesky diz que ganhou 2 milhões de novos usuários após bloqueio do X no Brasil

Rede social também está entre as mais baixadas nas lojas de aplicativos ao lado do Threads, que pertence à Meta, dona de Facebook, Instagram e WhatsApp. Bluesky Social
Reprodução
Rival do Threads e uma das alternativas para quem usava o X no Brasil, a rede social Bluesky anunciou na segunda-feira (2) que já alcançou 2 milhões de novos usuários na última semana. A informação foi confirmada pela própria empresa em sua página.
“DOIS MILHÕES de pessoas novas na última semana! Uma calorosa recepção a todos! 🤗”, escreveu a plataforma em inglês e português.
Como abrir uma conta no Threads e no Bluesky
Acompanhe o g1 no Threads
Segundo a própria Bluesky, eles contam hoje com mais de 7,6 milhões de pessoas inscritas.
Ainda não se sabe, porém, se a empresa tem um representando legal no Brasil. O g1 entrou em contato com a Bluesky e aguarda retorno.
Nesta terça-feira (3), a Bluesky aparece como o app mais baixado na Play Store (Android) e na App Store (iPhones). Atrás dele, está o Threads, da Meta, que também é dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp.
Bluesky ganha 2 milhões de novos usuários
Reprodução/Bluesky
Jay Graber, atual presidente-executiva da rede social, também comemorou o número e lembrou que os brasileiros foram os primeiros a aderirem à sua plataforma.
“Os brasileiros foram o primeiro grande grupo de usuários a se juntar quando o Bluesky entrou em beta em abril passado — estamos muito felizes em poder apoiar todos que estão se juntando agora!”, escreveu Jay Graber.
O Bluesky começou a ganhar mais adeptos depois que Musk, que comprou o X em 2022, decidiu limitar o número tuítes que um usuário com perfil não verificado poderia ler por dia.
O que é Bluesky?
O Bluesky é uma rede social que tem um visual quase idêntico ao do Twitter. A diferença está no modo como ela foi desenvolvida: a nova plataforma tem uma estrutura descentralizada.
Em plataformas centralizadas como X, Facebook e Instagram, o serviço é administrado por só uma empresa. Já o Bluesky é apenas um de vários espaços possíveis para se comunicar pelo padrão AT Protocol, com o qual outras pessoas poderão criar suas próprias redes sociais.
Na prática, a estrutura do Bluesky é parecida com a do e-mail, em que é possível enviar mensagens para uma conta do Gmail a partir do Outlook, por exemplo.
“O AT Protocol cria um formato padrão de identidade de usuários, seguidores e dados em redes sociais, permitindo que os aplicativos e os usuários se movam livremente entre eles”, diz a empresa.
Em termos de visual, o aplicativo do Bluesky é quase idêntico ao do X. Ele permite postar “skeets” (a sua versão dos tuítes) com até 300 caracteres, seguir outras pessoas, além de curtir, comentar e compartilhar posts.
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